Acordei de manhã, o sol ainda não havia despontado no
horizonte mas a noite já estava de partida. Tinha a sensação que era muito cedo
e não apetecia sair da cama. Lentamente, pus os pés de fora, destapei-me e
sentei-me na beira da cama. Sem sair do lugar, estiquei-me para alcançar a
correia da persiana e puxei-a. Pela janela, apercebi-me que o dia iria ser
cinzento e ventoso.
Morava numa grande cidade com prédios altos. Lá fora, o edifício
abandonado de um antigo hotel de uma
grande cadeia, baloiçava com o vento mas não partia, parecia feito de borracha,
mas tremia como gelatina. Tinha ainda o painel luminoso vermelho e branco do
hotel que em tempos fora de cinco estrelas. Não tardaria muito o edifício iria
ceder.
No céu, o vento agitava remoinhos de detritos. Dirigi-me à
sala. Lá fora a vista era a mesma do quarto, estranhamente, pois estavam em
lados opostos da casa. No ar, bandos de pássaros negros povoavam o céu. Os
pássaros moviam-se com o ritmo frenético de um cardume à hora da refeição, para
lá e para cá, em remoinhos que pareciam túneis. À medida que se aproximavam da
janela reparei que não eram meros pássaros negros, eram monstros alados, com
bocas cheias de dentes e olhos grandes e esbugalhados, eram "gremlins" alimentados após a meia noite, com asas, viscosos, sem pelo e extremamente
agressivos.
"É o fim do mundo!"- pensei - e apressei-me a puxar as persianas para
baixo em toda a casa.
Era o fim do mundo. Lá fora o caos estava instalado. Os sons
eram horrendos, o céu escuro, vento, frio, humidade. Era o fim do mundo e eu
não tinha que ir trabalhar, ia ficar em casa com o meu marido à espera que o
fim do mundo passasse.
Mas o que se seguiria ao fim do mundo?
Acordei, tinha sono, estava frio e a chover. Eram sete da
manhã e tinha que ir trabalhar. O mundo, lá fora, estava exatamente no mesmo
sítio, pelo menos na cidade pequena onde vivo.
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