sábado, 27 de novembro de 2010

Controlo - Sexta-feira, 10 de Abril de 2009

Está tudo controlado, julgo eu. Vai correr tudo como planeei. Se seguir os passos todos e cumprir os horários rigorosamente nada poderá falhar.

Acção após acção, pé ante pé, assim vou conduzindo a minha vida, o meu dia-a-dia, as minhas expectativas. Assim vou desenhando o meu futuro, juntando pedaços do presente que resultaram de atingir objectivos traçados no passado mais recente que foi ontem. A minha vida pode desenrolar-se como um novelo de fio, erguer-se como um castelo de cartas, é uma linha sequencial sem fim em que cada ponto é importante.

Está tudo controlado, agora faço isto, que me permite fazer aquilo, e depois outra acção programada se seguirá, e só pode acontecer como eu programei, não estou preparada para que corra de outra forma, são estas as minhas expectativas.

Controlo. Eu controlo o tempo, as horas, os minutos, eu controlo os tiques e os taques do relógio, eu controlo as chaves que uso, as portas que abro, os caminhos que percorro, as pessoas com quem me cruzo, eu controlo as cores que uso, os degraus que subo, os quilómetros que conduzo, eu controlo as palavras que vou usar, as palavras que quero ouvir, eu controlo e eu controlo-me.

Um dia uma das muitas chaves ficou esquecida sobre algo, as portas não se abriram, os caminhos não se cruzaram, não foram estabelecidas conversas, não foram ditas palavras, não foram ouvidas respostas, não foram cumpridas acções. O novelo de fio ficou cortado, um nó foi dado no sítio errado, o castelo de cartas perdeu uma carta da base e desabou... Perdi o fio condutor que me condiciona, baralhei as cartas todas de forma aleatória, fiz uma sopa de palavras sem nexo, subi as escadas erradas e bati nas portas fechadas. Não vi quem queria ver... não sou quem queria ser.

Perdi o controlo. Misturei as cores.

Estou controlada - estou presa - perdi o controlo - não sei lidar com a liberdade.


Ah! Por isso é que sou tão chata! (27 de Novembro de 2010)

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