Há tanto tempo que não escrevo que nem reconheço a minha letra. Ultimamente tenho andado muito distante de tudo e de todos. Sinto-me ansiosa com o dia de amanhã a tão cansada, sinto que ando aqui para nada. Estou farta de me enganar dizendo a mim mesma que para a próxima tudo será diferente, correrá melhor, que conseguirei alcançar certas expectativas. A minha cabeça já não é o que era, já deu tudo o que tinha a dar, já nem sequer sou uma pessoa criativa. "Quando o Criador morre, a criação morre" e eu morri.
Dava tudo para voltar a ter a minha alegria e segurança de volta, a minha criatividade e inocência, esvaziando a minha mente das preocupações da vida, ser apenas eu em toda a minha inteireza. Mas o que o tempo leva não traz de volta; a juventude e o vigor, a frescura e a suavidade – os traços vão ficando mais definidos e os contornos mais carregados. E como eu desejo sair dos contornos impostos pela sociedade hipócrita, contornos que só servem para nos prender, privando-nos de um mundo infinito de prazer, sem limitações.
Acordo de um sonho não concretizado, fruto de um desejo preso entre rígidos traços negros, horríveis e frios traços de expressão. Acordo para um mundo em que ninguém vive, no sentido total da palavra. Ninguém faz, nem mesmo acredita no que lhe vai na alma.
Mas agora é hora de dormir e de fechar os olhos sempre abertos, despertos para o mundo, olhando em volta, com atenção. É hora de dormir, é hora de viver, é hora de sonhar. Pé ante pé, com cuidado entro no mundo dos sonhos, cuidadosamente para não sair dos contornos limites da imaginação, quando o que menos quero é saber de contornos, apenas quero entrar severamente no sonho e lá residir para todo o sempre, onde a vida não tem limites; quando eu já nem sequer sonho, por estar tão tensa como uma raiz de uma enorme árvore.
É hora de dormir, e de sonhar, de fugir e de pensar, reflectir no que somos, no que fazemos, e para onde vamos. É hora de viver.
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