Queria por vezes abandonar o meu corpo
E observar-me como nos meus sonhos
Em que sou espectadora de mim própria
Como se estivesse a ver outra pessoa.
Eu queria poder observar o que os outros vêem
Os meus gestos, a expressão do meu rosto, o meu andar,
Queria ouvir a minha voz como os outros a ouvem,
Sentir o cheiro da minha pele como o vento o espalha,
Saboreá-la como só a água faz.
Queria apalpar o meu corpo, sentir o seu toque,
A pele macia das minhas costas sob as minhas mãos.
Queria por vezes entender o que sinto...
Porém sei que nunca poderei sair deste corpo
Que me prende como se fosse um labirinto,
Dentro do qual por mais voltas que dê nunca encontrarei saída.
Sei que nunca me vou olhar sem ser no espelho,
Nunca vou poder ver o meu sorriso e adivinhar o que estou a pensar.
Nunca vou poder encostar o meu ouvido ao meu peito
E escutar o bater do meu coração,
Ou o som da minha respiração.
Nunca vou poder olhar nos meus olhos e dizer de que cor são,
Nunca vou poder beijar as minhas costas
Nem acariciá-las com as pontas dos dedos.
Nunca poderei beijar o meu rosto nem os meus olhos,
Jamais me poderei carregar ao colo até à cama
Ou dar a mim própria um beijo de boa noite,
Afagar os lençóis e depois apagar a luz...
Sei que nunca me vou vigiar durante o meu sono como se fosse um anjo.
Nunca me vou poder olhar sem ser no espelho...
Nunca me irei cruzar comigo na rua,
Ou andar comigo de mão dada
Nem irei jamais apaixonar-me por mim à primeira vista.
Nem irei dizer a mim própria que estou bonita.
Sei que nunca me vou encontrar quando estou mesmo aqui, aqui!
E a única coisa que vejo quando me procuro é um corpo sem rosto,
O qual só encontro reflectido no vidro de um espelho
Quando não posso vê-lo no teu olhar,
Quando tu não estás aqui para completares aquele pedaço que me falta
E que ainda não desisti de procurar
Nas linhas das minhas mãos,
Que nunca se hão de cruzar
Com as veias do teu coração.
Nair Sobral Santos
06-11-2001
Quando tu não estás aqui para completares aquele pedaço que me falta
E que ainda não desisti de procurar
Nas linhas das minhas mãos,
Que nunca se hão de cruzar
Com as veias do teu coração.
Nair Sobral Santos
06-11-2001
Editado
28-11-2010
Comentário deixado por um anónimo, no blogge original.
ResponderEliminarAbsolutamente PROFUNDO, SENTIDO, PESSOAL...
So devemos fazer aquilo que conseguimos.... o que não nos compete fazer connosco próprios.... compete aos outros sentir-nos , acariciar-nos, amar-nos, beijar-nos.
Tudo o que não conseguimos fazer com o nosso corpo hoje, jamais conseguiremos amanha, e depois e depois.
O espelho é nosso amigo, por vezes nosso inimigo!!!!
O que sentimos por dentro ão podemos explicar oa nosso ser que so conseguimos ver ao espelho... apenas conseguimos (que como de fugida) o nossa sombra...
Temos que fazer do nosso corpo um ser que apenas nós sabemos do que ele precisa e não as pessoas que nos rodeiam...
Somos seres muitos sensiveis e naturais.
Monday, April 11, 2005 8:21:00 AM